Na Coreia do Sul, uma disposição legal única chama a atenção: há mais de um século, apenas pessoas cegas podem se tornar massagistas licenciados. Uma lei promulgada em 1912, durante a ocupação japonesa, tinha como objetivo garantir oportunidades de emprego para pessoas com deficiência visual, muitas vezes excluídas do mercado de trabalho. Essa regulamentação, embora incomum, continua a moldar o campo da massoterapia no país.
Uma medida histórica com impacto duradouro
Em uma época em que as opções de trabalho para pessoas cegas eram limitadas, essa lei ofereceu um caminho para a profissionalização e reconhecimento. Até hoje, ela é defendida por muitas associações que lutam pelos direitos das pessoas com deficiência visual, que a consideram uma forma de proteger os meios de subsistência de um grupo vulnerável. Os defensores argumentam que a massagem, que exige uma sensibilidade tátil excepcional, é particularmente adequada para cegos, que frequentemente desenvolvem um sentido de tato mais aguçado.
Na prática, os massagistas cegos desempenham um papel central em centros médicos e spas licenciados, e suas habilidades são amplamente reconhecidas. Eles passam por uma formação rigorosa, culminando em uma certificação oficial que atesta sua experiência.
O lado negativo: discriminação contra videntes
No entanto, essa lei não está isenta de controvérsias. Ao restringir legalmente o acesso a essa profissão, ela discrimina implicitamente as pessoas videntes interessadas em atuar na área. Muitos acabam trabalhando de forma ilegal, oferecendo serviços de massagem sem licença. Embora suas habilidades possam ser igualmente válidas, eles enfrentam penalidades severas, como multas pesadas e até prisão.
Essa situação gera tensões entre os dois grupos. Massagistas cegos criticam os praticantes videntes não licenciados, acusando-os de ameaçar seus meios de subsistência. Por outro lado, os massagistas videntes clamam por uma reforma na lei, argumentando que a competência nessa área não deveria ser definida pela visão.
Debates sobre uma reforma?
A possibilidade de revisar essa lei tem sido discutida há anos. Alguns propõem um sistema dual, em que as pessoas cegas mantêm um acesso preferencial à profissão, mas as pessoas videntes também podem exercer legalmente após concluírem uma formação rigorosa. Outros temem que tais reformas resultem em uma concorrência desleal, colocando em risco a segurança econômica dos massagistas cegos.
Apesar desses debates, a Coreia do Sul permanece como um dos poucos países que associa uma profissão a uma deficiência específica por meio de legislação. Embora esse modelo tenha suas falhas, ele reflete um compromisso histórico com a inclusão e levanta questões complexas sobre o equilíbrio entre proteção social e equidade profissional.
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